O cérebro é o quartel general de um complexo sistema que é o nosso corpo. Apesar das inúmeras descobertas na área da neurologia, psiquiatria, ciências sociais e básicas, ainda se trata do nosso orgão mais desconhecido e enigmático.
Este blog é escrito por médicos da área da Psiquiatria com o objetivo de dar a conhecer alguns factos interessantes sobre a mente humana.

sábado, 7 de maio de 2016

Tem picos de tensão e quantas mais vezes a mede maior está o valor?

Pois é, quantos de nós quando nos sentimos tontos ou com uma sensação esquisita que não conseguimos explicar, medimos a tensão arterial para ver se não será “tensão alta”? É verdade, muitos. É também verdade que na grande maioria das vezes, ela está mesmo mais elevada que o normal. Ficamos preocupados e voltamos a medi-la passado uns momentos e … a tensão aumentou ainda mais!

Esse fenómeno tem uma explicação relativamente simples e, para tal, devemos remontar a tempos bem longínquos, quando os nossos antepassados viviam na numa selva um pouco diferente da nossa. Quando estes eram confrontados com uma ameaça (um leão, por exemplo), o corpo reagia de maneira a fugir, ou seja, os músculos contraíam-se, o coração começava a bater mais depressa e a pressão arterial disparava. Tudo devido à ativação de uma parte do nosso sistema nervoso apelidado de Simpático. Acontece que, a nossa realidade é bem diferente, quando nos assustamos, não fugimos. Por outras palavras, quando estamos mais ansiosos, o nosso sistema nervoso simpático prepara-nos para fugir mas nós não lhe obedecemos. Ficam-nos as suas consequências, nomeadamente, o nosso coração fica a bater mais depressa e a nossa tensão aumenta. Ao verificarmos que a tensão está alta, ficamos naturalmente mais preocupados, levando a uma maior ativação do tal simpático e a um novo aumento da tensão.


PS: Os aumentos de tensão arterial provocados pela ansiedade são facilmente controláveis e na sua grande maioria inofensivos mas por vezes podem levar a problemas sérios, por isso não facilite e fale disso ao seu médico.

Imagem: www.theguardian.com

sábado, 2 de abril de 2016

O que é a Bulimia?

O geralmente termo bulimia é associado a vómito e a magreza. No entanto nem todas as pessoas que têm Bulimia nervosa vomitam e, a maioria, tem mesmo um peso superior ao esperado.

Voltando ao início, o termo bulimia, deriva do grego boûs (boi) e limós (fome), portanto “fome de boi”. A bulimia nervosa é uma doença caracterizada por episódios de ingestão compulsiva de alimentos, muitas vezes, altamente calóricos, seguidos de uma sensação de culpa e recurso a métodos, por vezes agressivos, para perder essas calorias ingeridas de “maneira disparatada”. Dentro dos métodos mais comuns está claramente o vómito mas também podem consistir em toma de laxantes, “saltar refeições” ou mesmo submeter-se a um intenso exercício físico.


Há também a ideia errada de que esta doença leva a um emagrecimento extremo, semelhante àquele observado em muitos casos de anorexia nervosa. A verdade é que isto não se verifica. As tentativas de gastar as calorias ingeridas de uma maneira compulsiva, raramente conseguem compensar a quantidades ingeridas, levando a um aumento gradual do peso. É verdade também que esta doença está muito ligada à anorexia, sendo que, muitas doentes com bulimia desenvolvem posteriormente anorexia e vice-versa

Imagem: saude.culturamix.com

domingo, 20 de março de 2016

Stress: amigo ou inimigo da perfeição?

Muitas foram as alturas em que, por ainda faltar muito tempo para entregar um trabalho, não conseguia começar a fazê-lo. Apenas quando o prazo se aproximava é que arranjava força para “deitar mãos à obra”. Outras vezes, mais em vésperas de exames ou apresentações importantes, por estar demasiado “stressado”, bloqueava e não conseguia concluir a tarefa com a perfeição que desejava.

A molécula responsável por esta variação chama-se noradrenalina. Ela é responsável pela capacidade de concentração e de resolução de problemas. Quando presente em quantidades moderadas estas capacidades atingem o seu máximo mas quando libertada em grandes quantidades estas são inibidas. Assim, quando estamos demasiado relaxados, temos quantidades de noradrenalina muito baixas e a nossas capacidades intelectuais estão adormecidas mas quando estamos demasiado stressados ou nervosos a quantidades de noradrenalina vão ser tóxicas tornando-nos incapazes. Em suma, mais uma vez “no meio é que está a virtude” (como mostra o gráfico)!



Claro que isto varia de pessoa para pessoa. Pessoas muito relaxadas por natureza vão produzir menos noradrenalina e precisam de estar “com a corda ao pescoço” para conseguirem produzir enquanto que pessoas mais perfecionistas e ansiosas trabalham melhor quando não estão sob pressão, bloqueando por vezes em alturas de grande stress.

sábado, 12 de março de 2016

Tomar antidepressivos engorda?

Certamente que já viu pessoas engordarem exponencialmente depois de fazer um tratamento para a depressão. Esta observação tem levado muitas pessoas a pensar que tomar antidepressivos era invariavelmente sinónimo de engordar (e muito!), levando muita gente a não tomar os antidepressivos prescritos por acharem que iriam engordar.
Isto tem o seu quê de mito e de realidade. Realmente, alguns antidepressivos têm como efeito secundário o aumento do apetite e consequentemente, o aumento do peso. Isto acontece essencialmente com os medicamentos mais antigos o que levou a que, há uns anos, o tratamento da depressão implicasse quase invariavelmente um aumento exagerado de peso. Isto levava a problemas de saúde física e também psicológicos, diminuindo a auto-estima da pessoa, por vezes agravando mesmo o episódio depressivo. No entanto, foram criados novos antidepressivos que não têm um efeito direto no peso.


 Quer isto dizer que se tomar esses novos antidepressivos não aumento de peso? Não necessariamente. A depressão é acompanhada, na maioria das vezes, por uma dimimuição do apetite e do peso, perdendo-se o prazer de comer. Quando esta é tratada adequadamente, com ou sem antidepressivos, o apetite e prazer em comer são novamente recuperados, levando a pessoa a recuperar o seu peso “saudável”.

quinta-feira, 3 de março de 2016

Porque é que o tabaco é tão viciante?

O vício do tabaco não só é uma questão de hábitos. São vários os fatores que levam a que esta substância seja tão consumida em todo o mundo. Desde já a relativa ausência de efeitos desagradáveis aquando do seu consumo, leva a que não haja uma aversão ao cigarro. Outra razão é a rápida chegada da nicotina (substância ativa do tabaco) ao cérebro quando fumada. Os nossos pulmões são altamente irrigados, sendo a parede dos alvéolos altamente permeável, proporcionando uma porta de entrada de excelência para a corrente sanguínea. A nicotina atua diretamente no sistema de recompensa do cérebro, levando à libertação de dopamina (hormona do prazer). Com a rápida chegada da nicotina ao cérebro, este associa com maior facilidade o ato de fumar à sensação de prazer e reforça o comportamento.
A constituição do maço de cigarros não é inocente. O tempo que os recetores da nicotina do cérebro levam até estarem completamente ocupados é exatamente o mesmo tempo que dura um cigarro e, depois de ocupados, levam cerca de 45 minutos até “dar de si” ou seja, até comunicarem ao cérebro que falta ali qualquer coisa. Tendo em conta que cada maço de cigarros tem 20 cigarros e que uma pessoa passa cerca de 16 horas acordada, é fácil perceber que o maço, está engenhosamente desenhado para suprir as “necessidades” do fumador e assim perpetuar o consumo.
Assim, não é estranho que o tabaco seja das substâncias que mais dependência cria, como mostra a tabela.

Probabilidade de se tornar dependente após a primeira experiência
Tabaco
32%
Heroína
23%
Cocaína
17%
Álcool
15%
Estimulantes
11%
Ansiolíticos
9%
Canábis
9%
Analgésicos
8%
Inalantes
8%

(adaptados de Stahl, 2013)

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Durmo as 8 horas indicadas e ando sempre com sono



A sonolência diurna é uma das principais causas de acidentes de viação e no trabalho. Esta nem sempre é devida a noites “dormidas à pressa” nem a patologia psiquiátrica. A Síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS) é uma doença muito comum, estimando-se que cerca de 4% dos homens de meia-idade sofrem desta doença.


A SAOS consiste numa obstrução das vias respiratórias durante o sono. Esta obstrução leva a um despertar momentâneo, que na grande maioria das vezes o doente não se recorda no dia seguinte. Os múltiplos despertares fazem com que o sono não seja reparador, causando sonolência diurna.

As consequências desta doença podem ir desde a simples mas perigosa sonolência durante o dia ao desenvolvimento de doenças como a hipertensão, depressão e alterações cognitivas.


O tratamento desta doença baseia-se numa primeira fase numa diminuição do peso, restrição do consumo de bebidas alcoólicas e de toma de sedativos, podendo ser necessário em casos resistentes o uso de um dispositivo que ajuda a manter as vias aéreas permeáveis durante a noite, o CPAP (continuous positive airway pressure)

Será que tenho Alzheimer?

Certamente que já se deparou com a preocupação de algum amigo ou familiar em ter Alzheimer. A tão mal fadada doença “descoberta” pelo senhor que lhe deu nome há cerca de 100 anos, teima em não ter cura, nem tão pouco um tratamento eficaz. Por essa razão, muitas pessoas que experienciam certos esquecimentos como onde puseram as chaves do carro, o código do multibanco, as datas de aniversários, o nome de determinada pessoa, pensam logo na terrível hipótese “Será que tenho Alzheimer?”. Como se não bastasse, esses pensamentos ocorrem mais frequentemente em alturas em que a pessoa anda mais desanimada ou ansiosa. 
Acontece que a depressão e a ansiedade podem muitas vezes imitar os sintomas da demência de Alzheimer, tornando a questão num círculo vicioso. A pessoa ansiosa/deprimida esquece-se, como está deprimida pensa de maneira mais negativa e acha que tem Alzheimer, levando a mais ansiedade e consequentemente, mais esquecimentos. Esta associação é tão comum que levou alguns autores a chamá-la de “Pseudo-demência”. Felizmente, ao contrário da verdadeira, esta demência tem um tratamento eficaz podendo mesmo falar-se em cura. 
Embora semelhantes, há algumas pistas que ajudam a distinguir as duas, como ilustra a tabela seguinte: 

Depressão
Demência
Início
Súbito com possível fator precipitante
Insidioso
Curso
Flutuante
Lento e progressivo
Memória
Melhor do que a autoavaliação
Pior que a autoavaliação
Humor
Deprimido
Variável
Quando testada
Respostas tipo “não sei”, “não sou capaz”
Habitualmente esforça-se por responder
Reação do doente
Hipervalorização dos défices “estou muito mal”
Desvaloriza os défices
Resposta ao tratamento antidepressivo
Boa com restabelecimento da memória
Sem resposta