O cérebro é o quartel general de um complexo sistema que é o nosso corpo. Apesar das inúmeras descobertas na área da neurologia, psiquiatria, ciências sociais e básicas, ainda se trata do nosso orgão mais desconhecido e enigmático.
Este blog é escrito por médicos da área da Psiquiatria com o objetivo de dar a conhecer alguns factos interessantes sobre a mente humana.

domingo, 20 de março de 2016

Stress: amigo ou inimigo da perfeição?

Muitas foram as alturas em que, por ainda faltar muito tempo para entregar um trabalho, não conseguia começar a fazê-lo. Apenas quando o prazo se aproximava é que arranjava força para “deitar mãos à obra”. Outras vezes, mais em vésperas de exames ou apresentações importantes, por estar demasiado “stressado”, bloqueava e não conseguia concluir a tarefa com a perfeição que desejava.

A molécula responsável por esta variação chama-se noradrenalina. Ela é responsável pela capacidade de concentração e de resolução de problemas. Quando presente em quantidades moderadas estas capacidades atingem o seu máximo mas quando libertada em grandes quantidades estas são inibidas. Assim, quando estamos demasiado relaxados, temos quantidades de noradrenalina muito baixas e a nossas capacidades intelectuais estão adormecidas mas quando estamos demasiado stressados ou nervosos a quantidades de noradrenalina vão ser tóxicas tornando-nos incapazes. Em suma, mais uma vez “no meio é que está a virtude” (como mostra o gráfico)!



Claro que isto varia de pessoa para pessoa. Pessoas muito relaxadas por natureza vão produzir menos noradrenalina e precisam de estar “com a corda ao pescoço” para conseguirem produzir enquanto que pessoas mais perfecionistas e ansiosas trabalham melhor quando não estão sob pressão, bloqueando por vezes em alturas de grande stress.

sábado, 12 de março de 2016

Tomar antidepressivos engorda?

Certamente que já viu pessoas engordarem exponencialmente depois de fazer um tratamento para a depressão. Esta observação tem levado muitas pessoas a pensar que tomar antidepressivos era invariavelmente sinónimo de engordar (e muito!), levando muita gente a não tomar os antidepressivos prescritos por acharem que iriam engordar.
Isto tem o seu quê de mito e de realidade. Realmente, alguns antidepressivos têm como efeito secundário o aumento do apetite e consequentemente, o aumento do peso. Isto acontece essencialmente com os medicamentos mais antigos o que levou a que, há uns anos, o tratamento da depressão implicasse quase invariavelmente um aumento exagerado de peso. Isto levava a problemas de saúde física e também psicológicos, diminuindo a auto-estima da pessoa, por vezes agravando mesmo o episódio depressivo. No entanto, foram criados novos antidepressivos que não têm um efeito direto no peso.


 Quer isto dizer que se tomar esses novos antidepressivos não aumento de peso? Não necessariamente. A depressão é acompanhada, na maioria das vezes, por uma dimimuição do apetite e do peso, perdendo-se o prazer de comer. Quando esta é tratada adequadamente, com ou sem antidepressivos, o apetite e prazer em comer são novamente recuperados, levando a pessoa a recuperar o seu peso “saudável”.

quinta-feira, 3 de março de 2016

Porque é que o tabaco é tão viciante?

O vício do tabaco não só é uma questão de hábitos. São vários os fatores que levam a que esta substância seja tão consumida em todo o mundo. Desde já a relativa ausência de efeitos desagradáveis aquando do seu consumo, leva a que não haja uma aversão ao cigarro. Outra razão é a rápida chegada da nicotina (substância ativa do tabaco) ao cérebro quando fumada. Os nossos pulmões são altamente irrigados, sendo a parede dos alvéolos altamente permeável, proporcionando uma porta de entrada de excelência para a corrente sanguínea. A nicotina atua diretamente no sistema de recompensa do cérebro, levando à libertação de dopamina (hormona do prazer). Com a rápida chegada da nicotina ao cérebro, este associa com maior facilidade o ato de fumar à sensação de prazer e reforça o comportamento.
A constituição do maço de cigarros não é inocente. O tempo que os recetores da nicotina do cérebro levam até estarem completamente ocupados é exatamente o mesmo tempo que dura um cigarro e, depois de ocupados, levam cerca de 45 minutos até “dar de si” ou seja, até comunicarem ao cérebro que falta ali qualquer coisa. Tendo em conta que cada maço de cigarros tem 20 cigarros e que uma pessoa passa cerca de 16 horas acordada, é fácil perceber que o maço, está engenhosamente desenhado para suprir as “necessidades” do fumador e assim perpetuar o consumo.
Assim, não é estranho que o tabaco seja das substâncias que mais dependência cria, como mostra a tabela.

Probabilidade de se tornar dependente após a primeira experiência
Tabaco
32%
Heroína
23%
Cocaína
17%
Álcool
15%
Estimulantes
11%
Ansiolíticos
9%
Canábis
9%
Analgésicos
8%
Inalantes
8%

(adaptados de Stahl, 2013)